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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Uma revolução libertária crescente no Brasil


Na esteira do repúdio generalizado desta semana a partidos políticos intervencionistas e socialistas no Brasil - e a um repentino surto de amplo apoio a candidatos favoráveis ​​ao mercado - recebi muitas perguntas: Como o Brasil fez isso? Como vocês têm tantos libertários? Como vocês conseguiram fazer tudo isso? Como vocês elegeram essas pessoas? Como isso aconteceu?

Essas perguntas são feitas a mim e a outros libertários brasileiros por todos os libertários não brasileiros que eu conheço.

Se você não está ciente do crescimento do movimento libertário no Brasil, então considere visitar um de nossos eventos. Nada supera esta experiência. Mais e mais, eles atraem centenas de pessoas, com muitos, inclusive, cobrando um preço não muito amigável. Precisamos fazer isso porque só podemos acomodar tantas pessoas se pudermos pagar por locais que tenham essa capacidade.

Você pode também ir a escolas ou universidades e ver alunos lendo e citando Mises, Rothbard e Hoppe, encarando professores de esquerda que pregam o evangelho do estado e organizando grupos de estudantes. Eu criei um site onde você pode cadastrar-se como um libertário, iniciando um grupo de orientação libertária, o que permite que cada pessoa registrada em um raio de 50 km receba uma notificação por e-mail. Com pouco esforço e promoção, nós temos agora mais de 200 grupos registrados, a maioria deles em escolas ou universidades.

Você também pode fazer o oposto: ir a reuniões de esquerda e perguntar o que eles desprezam, com o que estão preocupados. Além do surgimento de uma nova direita e seu padrão socialista médio, você ouvirá sobre os “ultraliberais”, ouvirá lamentações sobre como as pessoas não aderem mais à opinião admissível, ousando desafiar os dogmas estatistas através da utilização de coisas simples como a internet e de autores “neoliberais” como Mises, os quais argumentam a favor do livre mercado, da desregulamentação e até do fim do estado.

Entretanto, um dos exemplos mais intrigantes que eu posso aqui expor trata de um vereador de uma cidade de cinquenta mil habitantes no sul do Brasil. Ele foi eleito quase sem querer, tentando apenas para apoiar o seu partido. Depois de ser empossado, começou a investigar a administração pública e a economia. Descobriu o Instituto Mises Brasil, o meu canal, leu alguns livros e, pouco mais de um ano depois, finalmente percebeu que aquilo o que a Câmara municipal fazia era simples perda de tempo e dinheiro.

Muito também pode ser visto sem ter que embarcar num avião para o Brasil. Um rápido passeio pelos livros mais vendidos na Amazon Brasil provavelmente causará surpresa a muitos. Lá temos, por exemplo, “As seis lições”, de Mises, em terceiro lugar no segmento economia, “A mentalidade anticapitalista” em sexto e “O livre mercado e seus inimigos” em décimo primeiro. O livro sobre Bitcoin, de Fernando Ulrich, está no décimo quarto lugar, “O que o governo faz com o nosso dinheiro”, de Rothbard, em décimo-quinto, “Ação humana” em décimo sétimo e “O que deve ser feito”, de Hoppe, em décimo nono. Vinte e dois dos cinquenta livros mais vendidos estão relacionados à economia de livre mercado, com alguns de Adam Smith no meio deles.

Seis dos cinquenta livros mais vendidos no segmento política também têm um toque de liberdade, sendo um deles “Democracia, o deus que fracassou”, de Hoppe, em quadragésimo primeiro. E ainda assim, suspeito que isso esteja distorcido para baixo, já que devido à eleição qualquer livro que traga temas como "fascismo" no título tenha vendido bem, uma vez que a esquerda fez uma enorme tempestade em torno dessa questão.


Outro número interessante é o do meu canal no YouTube sobre o libertarianismo. Ele tem cerca de meio milhão de assinantes, 76 milhões de visualizações e está crescendo.

O fato é que as pessoas estão mudando suas mentes.

As estatísticas parecem apoiar isso. Um estudo feito em março deste ano tentou mostrar que a maioria dos brasileiros ainda apoia um estado grande. Isso por si só já é uma prova de que o libertarianismo está crescendo: as pessoas se sentiram compelidas a tentar encontrar dados para dizer o contrário, elas se sentiram ameaçadas e precisavam de novas garantias quanto a isso.

De qualquer forma, o estudo saiu pela culatra de uma maneira que poucas pessoas perceberam: 3,6% das pessoas declararam que o estado deveria estar completamente fora do fornecimento de bem-estar social, educação, saúde, cuidados de idosos e aposentadorias e desigualdade de renda. Eles disseram que o estado não deveria se meter nas relações entre os sexos e os grupos minoritários. Somando a isso, 10,5%, ou 22 milhões de pessoas, eram a favor da liberdade total para os mercados.


Uma breve história do Movimento Libertário Brasileiro

O que também é impressionante é o quão rápido chegamos até aqui. Há apenas quatro anos, seria insano dizer que isso aconteceria no Brasil. A candidata de extrema-esquerda e presidente, Dilma Rousseff, acabara de ser reeleita, apesar de sua incompetência dolorosamente óbvia e de um grande escândalo de corrupção. Nenhum partido de oposição existia, e seu governo tomaria claramente uma linha dura em favor de uma multiplicidade de políticas intervencionistas pró-impostos e pró-regulação, juntamente com gastos governamentais aparentemente intermináveis.

Tudo estava perdido, pareceu-nos. Muitos amantes da liberdade planejavam sua fuga do país, e o caminho para a Venezuela não passava de uma inevitabilidade estatística.

Não mais do que cinco ou seis anos atrás, um evento relacionado à liberdade dificilmente atrairia mais de cinquenta pessoas nas grandes cidades, e antes disso, as pessoas que defendiam o libertarianismo tinham boas razões para se preocupar com a perseguição política, já que o governo de esquerda parecia invencível. No entanto, tudo isso foi derrotado na eleição que ocorreu esta semana.

Mas quem são esses novos candidatos que venceram, substituindo o antigo regime?

Apenas alguns candidatos aderiram a uma consistente plataforma libertária. Muitos aderiram em grande parte aos pontos econômicos, embora sejam claramente não-libertários em questões como a descriminalização de drogas, adoção por casais homossexuais ou homeschooling – o qual é ilegal no Brasil. No entanto, a discussão geral tem se voltado para muito menos interferência estatal na economia, equilibrando o orçamento, além da defesa de um modelo de privatização radical e de forte desregulamentação.

Um dos feitos mais impressionantes foi conseguido por Romeu Zema, um empresário de muito sucesso e um daqueles que chamo de “libertários que não sabem que são libertários”, os quais decidiram concorrer ao governo de Minas Gerais sob o partido Novo. Ele e o partido ostentaram a plataforma mais livre mercado nesta eleição, obtendo 72% dos votos nos segundo turnos. O Novo também elegeu 8 nomes para a Câmara dos Deputados, um dos quais eu apoiei como um libertário “completo”, além de doze representantes em nível estadual, quatro dos quais eu apoiei. Acrescente-se a isso Bruno Souza, um libertário de boa-fé eleito por um outro partido para a legislação estadual de Santa Catarina, além de um senador eleito pelo Livres, um grupo liberal no sentido original da palavra e ligado a muitos partidos diferentes, e nós temos uma demonstração impressionante nestas que foram as primeiras eleições federais onde os libertários concorreram.

Além de tudo isso, há muitos candidatos em ambas as câmaras federais e legislaturas estaduais que concorreram em uma linha claramente mais livre mercado do que jamais poderia se imaginar. Muitos deles podem estar apenas mentindo, mas mesmo isso seria uma espécie de vitória. Se os políticos estão defendendo o livre mercado por mera conveniência eleitoral, isso significa que as ideias estão se espalhando e eles não podem fazer nada além de se render à onda.

Porém, muitos deles são provavelmente sinceros, apesar de contraditórios em alguns pontos, o que você esperaria de pessoas que são ainda novas no movimento. Muitos partidos elegeram representantes que realmente acordaram e perceberam que o socialismo e a intromissão do Estado são fardos, que as pessoas são melhores livres. Quantos? É interessante dizer que simplesmente não temos certeza sobre quantos assim realmente existem. Apenas as votações deles realmente nos dirão.

Finalmente, temos o caso do presidente eleito, Jair Bolsonaro. É difícil encontrar um artigo em inglês sobre ele que não repita simplesmente as manchas e distorções que a mídia brasileira lhe deu. Não ajuda muito o fato de que somente no ano passado ele tenha aprendido a não fazer declarações confusas e obscuras que podem ser facilmente distorcidas por seus oponentes.

A crítica apropriada a ele deve estar centrada em inconsistências, falhas e erros. Retratá-lo como uma ameaça autoritária, na melhor das hipóteses, é enganoso. Embora tenha feito declarações que podem ser interpretadas como autoritárias, ele não é nada mais do que o brasileiro comum. Certamente não é uma ameaça maior do que qualquer coisa que os esquerdistas tenham feito nos últimos trinta anos. Seu primeiro discurso após a vitória contou com uma mesa com quatro livros: a Constituição, a Bíblia, uma biografia de Churchill e um livro de Olavo de Carvalho, um famoso filósofo conservador brasileiro.

Entretanto, ele não é libertário. Se alguém tivesse que colocar uma definição para ele, seria de um conservador amigo do mercado, mas não fique preso em rótulos. Uma notável bandeira vermelha é a sua completa oposição à descriminalização das drogas e um plano de educação consideravelmente centralizador. Suas propostas econômicas são de longe as mais livre mercado a ganhar uma eleição no Brasil, com ele fazendo extensas e amplas declarações em favor da defesa da propriedade privada, apesar de algumas falhas nos detalhes. Ele ainda defende um Banco Central, não se opôs ao imposto de renda e reluta em privatizar empresas que considera "estratégicas", o que quer que isso signifique. Embora haja economistas de inclinação austríaca à sua volta, a maioria deles é monetarista, com tudo o que isso implica. Paulo Guedes, seu economista-chefe, é um conhecido amante do livre mercado da Escola de Chicago e pode-se esperar que isso signifique muito mais coisas boas do que ruins. Por fim, ele defende a crescente descentralização do poder, que é muito bem-vindo.

No entanto, só saberemos verdadeiramente o quanto isso é real quando ele realmente estiver empossado. O Brasil precisa urgentemente de profundas reformas. Depois de três mandatos presidenciais do Partido dos Trabalhadores, há muito a ser feito. Muitas das medidas necessárias serão profundamente impopulares, fáceis de serem distorcidas pela esquerda e bastante complicadas. O discurso e a promessa estão feitos, agora é a hora de agir e ver o que acontece. Ainda assim, se ele conseguir fazer um terço do que planejou, teremos muito mais liberdade do que poderíamos imaginar alguns anos atrás.

Além disso, nossas esperanças não devem estar focadas no que alcançamos até agora, mas no fato de que estamos apenas no começo de algo bem mais profundo. O libertarianismo está em ascensão, levando pessoas de todas as posições políticas a perceber que é ético e melhor deixar as pessoas conduzirem suas vidas em paz. A longo prazo, não é essa ou aquela eleição o que de fato importa, mas a tendência, o caminho intelectual que está sendo tomado pelas mentes das pessoas. E esse caminho está indo em direção à liberdade.

Organizações pró-mercado estão surgindo em todo o lugar, novos livros estão sendo traduzidos e escritos, estudantes estão se organizando cada vez mais. Os empreendedores do país estão percebendo que o protecionismo, os subsídios e as taxas de juros artificialmente reduzidas são forças de destruição. As pessoas estão percebendo que a regulamentação dos negócios, os impostos e burocracia, tudo isso prejudica os pobres de forma desproporcional, impedindo-os de dar seus primeiros passos. Além disso, as reformas e os espaços que nos permitirão respirar liberdade, os quais serão abertos por eles, criarão um terreno fértil para a liberdade mostrar na prática o que ela prega. Quando as pessoas experimentam seu efeito em suas vidas e veem os bons resultados, fica difícil pensar que desistirão facilmente.

E é isso o que nos traz de volta à questão de como chegamos até aqui. A resposta simples é que nós não temos certeza, estamos tão estupefatos quanto todos os outros. Nós nos acostumamos a nos sentir assim o tempo todo e continuamos espalhando a liberdade do mesmo jeito.

No entanto, alguns nomes são inevitáveis. O governo incompetente de Dilma Rousseff, a crise econômica que ela e seu partido provocaram, além de dois enormes escândalos de corrupção foram inegavelmente fundamentais para esse despertar libertário. Poucas coisas ajudam tanto os argumentos libertários como ter pessoas no governo que não passam de um bando de ladrões em grande escala, com os serviços prestados pelo governo mostrando-se tão claramente como um desastre irrecuperável.

Entretanto, isso por si só não produz tal coisa. Há muitas pessoas que trouxeram as ideias de liberdade para o povo. Não podemos ignorar Henry Maksoud, que nos anos setenta e oitenta traduzia Mises e Hayek em sua máquina de escrever e dirigia sua revista Visão, dedicada a promover a liberdade. Como ele não era jornalista, a lei e o sindicato dos jornalistas afirmavam que ele não poderia ser o editor-chefe da revista, então ele pagava uma multa todo mês e seguia em frente.

E há muitos outros, muitos para citar completamente, que passaram a última década subindo e descendo o país fazendo palestras, dando aulas e fomentando grupos de estudo. A maioria, senão todas, fizeram-no com perda pessoal e financeira, em tempos em que a eterna vitória do socialismo no Brasil era tudo uma questão de tempo, em lugares completamente hostis como universidades dominadas pela esquerda, quase sempre reunindo um punhado de pessoas dispostas a ouvi-los.

O Instituto Mises Brasil também foi fundamental para esse processo. Ao traduzir dúzias de livros e divulgá-los por todo o país, publicando artigos fortes, claros e profundos, prevendo as crises econômicas no Brasil ainda em 2011, eles criaram uma base intelectual que mesmo a esquerda ousa apenas dar uma olhada cuidadosa.
Outro marco foram as associações empresariais, como o Instituto de Estudos Empresariais do Rio Grande do Sul ou os diversos institutos de formação de líderes espalhados por todo o país. Eles trouxeram empresários de muitos ramos diferentes, os quais passaram a aprender sobre Mises, Hayek, liberdade, economia e política, e foram fundamentais, espalhando muitas sementes de um movimento como este, com as nossas necessidades.

Por fim, temos a internet e todas as suas maravilhas. Com meu canal do YouTube posso alcançar cem mil pessoas por dia. Muitos outros canais, páginas do Facebook, contas do Twitter, blogs, etc., formam um ecossistema de ideias que nos ajuda a levar as ideias de liberdade a todos os cantos do país.

Se você está interessado em descobrir mais, então venha ao Brasil e veja por si mesmo. Adoraríamos descobrir como compactá-lo e exportá-lo para o mundo.


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